Aline
Por Alda d'Araújo em Crisálida



Fui mãe muito jovem. Aos 19 anos tive meu primeiro filho, e aos 20 o segundo. Minhas amigas falavam em namorados, e faculdade, e eu falava de fraldas e mamadeiras, leite em pó e doenças infantis. Elas curtiam festas, viagens, saídas com amigos; eu curtia os primeiros dentinhos, os primeiros passos... Não me arrependo, nem tão pouco fiquei frustrada, mas não acoselharia a ninguém a casar-se e ter filhos tão cedo. Naquela época abri mão de muitas coisas que me fizeram falta mais tarde. Clarissa Pinkola Estés fala em seu livro: "Mulheres que correm com os lobos": " A mãe -criança pode se sentir tão deslocada, sob o aspecto psíquico, que se considere não merecedora do amor do seu bebê. A mãe precisa de atençãos materna para dar atenção a sua própria prole". Nem sempre a mãe muito jovem é uma mãe criança; pode ser jovem é uma mãe criança; pode ser jovem ao mesmo tempo ser madura. Todavia, se a mãe é jovem demais, pode, em seu contexto social, em suas expectativas, em suas atividades, não estar ainda pronta para exercer a maternidade de maneira plena.

Segundo Clarissa, a mulher quando é mçae pela primeira vez, tem dentro de si uma mãe criança, quer tenha 18 ou 40 anos: Uma mulher com uma mãe criança interna assume a aura de uma criança que finge ser mãe... tortura seu filho com diversas formas de atenção destrutivas e, em alguns casos, de falta de atenção. Neste aspecto a mulher precisa de alguém que a oriente, que a apóie e que a ajude a desenvolver segurança na sua tarefa de ser mãe.


Se você tem uma mãe-criança dentro de si, não tenha medo de procurar orientação de pessoas mais experientes, mas não se deixe manipular, não se acomode; é você mesma que vai gerar essa maternidade de maneira plena.




A Crise Da Mãe Culpada

Maternidade culpada: crise que pode ser produto de rejeição ao filho, aborto, gravidez indesejada, inversão de prioridades...

Certa vez uma moça confidenciou-me:

-Desejaria nunca ter tido filhos. Nunca os quis, não nasci para ser mãe; gosto deles, faço tudo o que posso por eles, mas detesto ter que me prender a eles, ter que direcionar minha vida em função deles.
Este sentimento me deixa cheia de culpa e raiva, ao mesmo tempo.

Esta é uma situação delicada. Talvez sua escolha tenha sido feita sob pressão dos padrões da sociedade, como vimos na "crise da mãe sem filhos". Esta mulher escolheu gerar filhos, mas agora está arrependida, por não se sentir vocacionada a realizar esta missão. Sua crise é rejeição à própria escolha: ama e rejeita ao mesmo tempo. Ama porque não pode negar a maternidade; rejeita por não se sentir capaz ou disposta a assumi-la. Para algumas mulheres este tipo de crise não se manifesta de maneira tão transparente, mas é abafada e dissimulada por medo de julgamentos, e de ser incompreendida. Esse tipo de rejeição pode produzir atitudes que vão desde a indiferença até ao maltrato e abandono. Se a mãe que rejeita entra em crise de culpa, pode ser muito positivo, pois através da culpa vem a consciência de sua situação e, a partir daí, poderá trabalhar buscando o equilíbrio, aceitando o objeto se sua rejeição e buscando meios de suprir sua própria carência.
As vezes em que a mãe rejeita por egoísmo, ela não sabe ou não quer se "doar". Isto gera crise e esta é uma crise que promove fuga. a mãe foge da responsabilidade, se isola, e tenta buscar justificativas que a defendam. Se sente culpada mas acomoda-se a situação. O princípio da cura do egoísmo é a valorização do outro. Comece a se ver em seu filho, ou filha. Sua vida se prolonga na vida dele e dela.
Mecionamos o aborto como uma dos agentes deste processo de culpa. Não vamos discorrer sobre este tema que é tão complexo: apenas falaremos da culpa que tal escolha pode trazer. Assim como a culpa pela rejeição pode ser destrutiva, esta também pode ser: promove a consciência da gravidade do ato prticado e, a partir daí, a possibilidade do arrependimento e do perdão, tanto de Deus como de si mesma. O que quero dizer é: se você fez aborto e se sente culpada, esta é uma culpa positiva, capaz de gerar cura. O ato já foi consumado,a s razões pelas quais você tomou tal atitude, quer sejam justificadas ou não pela sociedade, não mudam o que foi feito. O importante agora é nçao se martirizar pela culpa mas assumir uma nova postura crendo no perdão de Deus. Se você já fez um aborto e não se sente culpada por isto, mas se sente culpada por não se sentir culpada, quero dizer que: o simples sentimento de culpa denota uma insatisfação de ter cometido algo ruim ou errado. Você sabe as razões que a levaram a tomar essa atitude, e ist você deverá tratar só com Deus. Eu pessoalmente repudio qualquer justificativa para o aborto apesar de saber que algumas situações são dramáticas. Porém nunca tive que fazer esta decisão para afirmar minhas convicções, e espero jamais ter de fazê-lo, por isto mesmo acho muito sério qulaquer tipo de julgamento por terceiros. Devemos orientar, aconselhar, ajudar, mas julgar, só pertence a Deus.

O perigo em ambos os casos não é a crise, e sim a ausência dela. A culpa, quando tratada de maneira sadia, produz arrependimento; o arrependimento, quando sincero e consciente, recebe perdão; e o perdão, quando aceito, gera saúde espiritual e emocional.





"Crisálida: O bonito da existência está em que ela não acaba em si mesma, mas em estender-se, através do que geramos, do que produzimos"

Fonte: Texto de Alda D'Araújo em "Crisálida"

Veja mais em : A crise da Maternidade

A Crise da Mãe sem Filhos

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